Uma Pessoa é Suficiente Para Destruir Um País, diz Especialista em Holocausto Lucas Borges Teixeira

Homem passa por grafite dedicado ao Holocausto na cidade grega de Salônica


RESUMO DA NOTÍCIA
Escritor vê semelhança entre propagandas nazistas e produção política atual
Lavagem cerebral com fake news busca permanência no poder, aponta
Especialista em Holocausto faz palestra em SP no dia 23

Se tem uma coisa que lideranças da atualidade se assemelham aos governos autoritários do século 20 é o uso de informações falsas para a conquista e a manutenção do poder. Para o escritor e cineasta Márcio Pitliuk, especialista em Holocausto, é possível ver semelhança nas propagandas nazistas de Terceiro Reich e a produção política atual.

"O objetivo [de propagar informações falsas] é fazer uma lavagem cerebral nas massas para que todos compactuem com a sua ideologia", afirma Pitliuk. "Isso está presente em tudo, da alteração de informações e imagens a mentiras em discursos gigantescos."

A forma mais eficiente da manutenção do poder por meio da manipulação se dá em especial por duas frentes: produção de qualidade de material propagandista nacionalista que ressalte o regime, como fazia a Alemanha nazista, e a invenção de um inimigo em comum.

"Quando Adolf Hitler invadiu a Polônia [em 1939, dando início à Segunda Guerra Mundial], ele dizia que iria libertá-la da orientação judaica. O mesmo fizeram os soviéticos poucos dias depois. Mas os judeus eram apenas entre 5% e 8% da população do país", argumenta Pitliuk. "Ou seja, era mentira, mas foi tudo tão bem feito que acreditaram."

DivulgaçãoO escritor e cineasta Márcio Pitliuk, especialista em Holocausto

"Na Alemanha foi pior. Durante a ascensão nazista, povo judeu era apenas 0,5% da população: 300 mil para um total de 65 milhões [de pessoas]. Como 0,5% era culpado pelo fracasso na Primeira Guerra? Como teriam tanto poder? Era fake news, desculpa para tomarem o poder. Mas o povo estava mal, mais suscetível", afirma o escritor, que dará uma palestra sobre a produção de fake news na Alemanha nazista no Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto, em São Paulo, no dia 23 de setembro.

Segundo ele, esta estratégia de repetição de mentiras sobre um grupo específico para manobrar a opinião pública pode ser vista dos nazistas à União Soviética stalinista e em governos atuais.

Na Europa, tudo era culpa dos judeus. Nos países comunistas, dos Estados Unidos. Nos EUA, era dos russos; e assim vai... O inimigo é sempre externo. Todo ditador precisa arrumar este inimigo que não seja do seu grupo. Se está ruim, não é minha incompetência, alguém é culpado pela situação

Ele exemplifica: "Os EUA diziam que a qualquer momento os russos iam bombardeá-los, por isso tinham que investir em bombas atômicas. Mas a URSS nem se mantinha em pé, ruiu sozinha. Ela só era uma potência aos olhos deles, do inimigo. Hoje, a desgraça na Venezuela é igualmente culpa dos EUA —e não do governo [Nicolás] Maduro. Logo, criam-se fatos para consolidar uma tese. Se param com isso, o rei fica nu. Se não há inimigos, vão começar a reparar nos problemas próprios."

Nas Américas e na Europa, onde hoje a disputa de poder se dá por meio de eleições democráticas, ele avalia que este fenômeno continua a se formar pela criação de mitos.

"Se está tudo ruim em um país, como você resolve o problema? Elegendo um salvador. A gente pode ver isso em diversas situações. Lá atrás, os salvadores já foram Hitler e [o ex-comandante soviético Joseph] Stálin. No Brasil de hoje, este salvador já foi o [ex-presidente Luiz Inácio] Lula e agora é o [presidente Jair] Bolsonaro. A propaganda cria isso."

ReutersPortão do campo de concetração Auschwitz-Birkenau, na Polônia

Para que criar uma fake news?

Outra forma de manipular massas e segregar a população é criar informações falsas sobre assuntos específicos. Na Europa, sempre foi comum a questão da imigração e do antissemitismo (embora, ele pondera, o Holocausto tenha elevado isso a um nível extremo). No Brasil, os pontos são outros, como questões de gênero e meio ambiente.

"O poder pega uma bandeira que dá ibope e cria situações sobre ela. Nesses países da Europa, atacar os judeus dá audiência. Até hoje partidos da direita atacam a imigração. Pois lá, o estrangeiro é sempre estrangeiro, não importa que esteja na décima geração nascida no país", argumenta o escritor. "Na Lituânia, por exemplo, onde existem judeus há 600 anos, eles ainda se dividem entre os lituanos [Lietuviai] e os judeus lituanos [Litvaks]."

"No Brasil, não dá para fazer isso: o japonês da segunda geração é brasileiro. Pode ter olho puxado, o que for, não importa, é brasileiro." Por isso, por aqui cria-se fake news sobre outras questões.

"Existe uma discussão infinita sobre os homossexuais, por exemplo. Eles não surgiram com o PT nem vão acabar com o PSL, mas virou bandeira [de disputa política], assim como outras minorias em diferentes lugares e locais", afirma Pitliuk. "Agora, também há a questão da Amazônia como uso político em meio a um monte de desinformação."

Apesar de a grande maioria dos governos autoritários terem acabado no século 20, Pitliuk afirma que este passado não está tão distante assim, por isso é sempre bom ficar alerta sobre os discursos políticos e o uso de fake news como manobra de manipulação.

"Falam que é coisa do passado... Mas o Holocausto existiu há 75 anos, Stálin morreu em 1953, tudo há menos de um século. Isso é nada para a história", diz. "Veja ainda o Maduro na Venezuela e o Bashar al-Assad na Síria: eles estão lá atualmente."


"É preciso entender que uma pessoa é o suficiente para destruir um país. Esses caras têm essa capacidade, pois se cercam de pessoas comprometidas com ele e usam de fake news para ajudar nisso", alerta Pitliuk.






#Fonte: Uol
Uma Pessoa é Suficiente Para Destruir Um País, diz Especialista em Holocausto Lucas Borges Teixeira Uma Pessoa é Suficiente Para Destruir Um País, diz Especialista em Holocausto Lucas Borges Teixeira Reviewed by CanguaretamaDeFato on 22.9.19 Rating: 5

Nenhum comentário:

OS COMENTÁRIOS SÃO DE EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DO AUTOR.

REGRAS PARA FAZER COMENTÁRIOS:
Se registrar e ser membro do Blog; Se identificar (não ser anônimo); Respeitar o outro; Não Conter insultos, agressões, ofensas e baixarias; A tentativa de clonar nomes e apelidos de outros usuários para emitir opiniões em nome de terceiros configura crime de falsidade ideológica; Buscar através do seu comentário, contribuir para o desenvolvimento.

Tecnologia do Blogger.