Renuncia do Papa Bento XVI - Dia Que Fica Para História

Renúncia fortalece espírito de uma Igreja viva


No último dia como chefe da Igreja, o Papa Bento XVI se reuniu com cerca de cem cardeais para cumprimentá-los, receber homenagens e participar do tradicional ritual de "beija-mão". Foi uma despedida emocionada na Sala Clementina, na qual Bento XVI reconheceu que entre os presentes “está o futuro Papa”, ao qual ele prometeu sua incondicional obediência, desejando que o escolhido seja iluminado para guiar a Santa Sé. No final da tarde desta quinta-feira (início da tarde no Brasil), o Pontífice se despede da liderança da Igreja Católica e parte de helicóptero para a residência de verão, em Castelgandolfo. No evento desta manhã, ele conversou com os religiosos, sorriu em vários momentos e prometeu estar perto em oração, principalmente durante o processo de escolha de seu sucessor.

- Continuarei com vocês nos próximos dias. Antes de saudá-los pessoalmente, desejo dizer que continuarei próximo em oração, especialmente nos próximos dias, para que vocês sejam plenamente dóceis à ação do Espírito Santo na eleição do novo Papa. Que o Senhor vos mostre quem Ele quer. Entre vós, entre o Colégio dos Cardeais, está também o futuro Papa, ao qual já hoje prometo a minha incondicionada reverência e obediência - afirmou Bento XVI.

Durante todo o dia de ontem, nas paróquias de Natal, foram celebradas missas em Ação de Graças pelo papado de Bento XVI. A orientação para a homenagem foi do arcebispo Dom Jaime Vieira da Rocha, que presidiu uma cerimônia, às 11h, na catedral metropolitana. Para ele, a última mensagem do papa confirmou a coragem, humildade e fidelidade do líder da  Igreja Católica que passa a ser papa emérito a partir de hoje. "Em seu discurso, o papa encorajou a igreja. A barca de Pedro não pertence a ele nem a nós, pertence a Jesus", frisou.



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De acordo com a professora do seminário de São Pedro e doutora em História da Igreja Católica, Irmã Vilma de Oliveira, a mudança no papado ocorre num momento de profunda mudança e renovação da fé. A estudiosa afirmou que a crise pela qual a instituição milenar atravessa não foi a causa da renúncia do papa. "A causa é a necessidade de forças mais jovens para enfrentar esse momento. A Igreja, como é milenar, é acostumada a enfrentar crises".

Com a saída de cena de Joseph Ratzinger, a expectativa de líderes e fiéis católicos volta-se para a definição do sucessor. Para Dom Jaime, o novo papa que será eleito no conclave. Na próxima sexta-feira, o cardeal Angelo Sodano - secretário de Estado do Vaticano -  enviará os convites aos 115 cardeais com direito a voto. "O próximo papa tem de ser um homem de coragem para buscar a renovação nesses tempos que enfrentamos. A Igreja não pode, nem será submissa aos eventos da sociedade", colocou.

Vilma de Oliveira escreveu um artigo sobre a renúncia dos cinco papas. Ela explicou que o gesto de Bento XVI iguala-se ao de Celestino V, que abdicou do papado "consciente de não estar à altura da tarefa a ele confiada". A religiosa explicou ainda que a desistência de Bento, "do ponto de vista histórico, tem novos aspectos e fundamentos que, em síntese, colocam a Igreja na mira da modernidade". Para ela, a renúncia "é uma significativa contribuição histórica para que ela [a Igreja] continue a aparecer, perfeitamente jovem e bela, como  a velha dama que rejuvenesce", fazendo referência a obra literária cristã do século 2, "O Pastor de Hermas".

No último pronunciamento como papa, Bento XVI, aplaudido pela multidão que acompanha a cerimônia, frisou que "um papa não está sozinho na condução da barca de Pedro, embora lhe caiba a primeira responsabilidade; e o Senhor colocou ao meu lado muitas pessoas que me ajudaram e sustentaram". As palavras do pontífice foram, para Dom Jaime, uma expressão da simplicidade e humildade do papa. "Notamos que, apesar de ser um fato histórico e inédito para a Igreja moderna, a cerimônia de despedida não foi nada de extraordinário. Apesar de exigir uma coragem exemplar, Bento XVI mostrou-se tranquilo, sereno com a presença afável do povo de Deus que acompanhava suas palavras", descreveu.

Apesar dos números do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstrarem uma redução de mais de 20% no contingente de católicos no Brasil, a professora Vilma de Oliveira acredita que esse fator não deve ser preocupação para o futuro líder da Igreja Católica. "Há uma crítica com relação ao formato de como o censo foi realizado. Fora isso, a Igreja deve se preocupar com a qualidade e não quantidade de fiéis", enfatizou. Bento XVI também frisou em seu discurso: "todos falam do declínio da Igreja, mas vejamos como a Igreja é viva hoje".

Sobre a definição do sucessor de Joseph Ratzinger, a irmã Oliveira prefere não tecer comentários mais enfáticos. "Vamos entregar ao Espírito Santo. Não podemos fazer prognósticos sobre esse assunto. Não cabe a nós especular sobre quem vai assumir esse posto. É o Espírito Santo quem encaminha", afirmou.

Bate papo - » Almir Franco de Sá Barbuda - Embaixador na Santa Sé

Trono ocupado por um homem de coragem

Quais são as impressões do senhor sobre o papa Bento XVI?
Minha impressão é a melhor possível. É um homem muito corajoso, ele saiu de peito aberto em defesa do que acredita. Ele brigou para vencer as intrigas e combater os casos de pedofilia dentro da Igreja, esteve com algumas das vítimas [dos casos de pedofilia] e chorou com elas. Fez muito em defesa do ecumenismo e da tolerância religiosa, ao visitar sinagogas e mesquitas. Foi a Cuba e falou o que pensava. Nunca deixou de dizer o que pensava. Definitivamente é um homem de coragem.

O senhor avalia que resumir o legado de Bento XVI à renúncia é reduzir o que ele deixará para a posteridade?
Sem dúvida, ele deixará muito para a história, além do que mencionei. Devem ser considerados os esforços feitos por ele para rejuvenescer a Igreja, nomeando cardeais mais jovens do que o habitual, como no caso das Filipinas [dom Luis Tagle que foi nomeado aos 55 anos], e por ser o papa da palavra, por sua cultura e conhecimento. Ele também tentou resolver questões deixadas pelo papa João Paulo II, que no final do seu pontificado estava muito enfermo [cujo pontificado durou 31 anos e terminou em 2005].

Para o senhor, a escolha de um novo papa pode mudar as relações entre a Santa Sé e o Brasil?
Nada vai mudar nem vejo possibilidade de isso ocorrer. As relações entre a Santa Sé e o Brasil existem desde a primeira missa realizada em solo brasileiro [celebrada em 1.500 pelo padre Henrique de Coimbra e imortalizada em um quadro de Victor Meireles denominado A Primeira Missa no Brasil]. Ano passado, o ministro Antonio Patriota esteve na Santa Sé com o chanceler Dominique Mamberti . Há muita coisa em comum entre a política externa da Santa Sé e do Brasil.
Renuncia do Papa Bento XVI - Dia Que Fica Para História Renuncia do Papa Bento XVI - Dia Que Fica Para História Reviewed by CanguaretamaDeFato on 28.2.13 Rating: 5

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