ENTREVISTA: "O Melhor Esporte a Praticar é Fugir do Sedentarismo”

Com o trabalho professional como professora de Educação Física e fazendo uma auto-observação do próprio comportamento feminino, Rosa Maria Soares Costa de Mendonça não teve dúvidas que ali estava uma fonte de pesquisa. Foi a partir disso que surgiu a ideia de desenvolver o doutorado onde estudou os reflexos do exercício físico no aspecto físico e psicológico das mulheres. Tese que defendeu na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Portugal.

Quando questionada o que leva a mulhera  prática do exercício, Rosa Mendonça é direta: “Grande parte dos estudos sobre a imagem corporal feminina reporta a relação de satisfação/insatisfação da mulher consigo mesma. Na cultura ocidental e particularmente no Brasil, o corpo e a boa aparência física significam um importante veículo de ascensão social e de relacionamentos bem sucedidos”.

A pesquisadora afirma que uma das surpresas do trabalho foi a relação entre o nível de depressão e a gordura da mulher. Há uma associação positiva do percentual de gordura com a depressão exclusivamente no grupo de mulheres sedentárias. Ou seja, o aumento da gordura corporal nessas mulheres resulta em níveis mais elevados de depressão.  E Rosa Mendonça   já adianta que essa será motivo de novos estudos para ela.

O 3 por 4 de hoje traz muitas lições e o conhecimento de uma pesquisadora com um assunto vivido no nosso dia-dia.
Confira:

Para Rosa Maria Soares, mulheres que trabalham no lar são as mais resistentes a começar exercíciosPara Rosa Maria Soares, mulheres que trabalham no lar são as mais resistentes a começar exercícios

O que lhe motivou ao doutorado com o estudo sobre os efeitos do exercício físico nas mulheres?
Que me perdoem os homens, mas as mulheres possuem inesgotáveis fontes de curiosidades e vasto campo para investigação. Como já dito por Rita Lee “mulher é bicho esquisito, todo mês sangra, um sexto sentido maior que a razão…” E foi assim que tudo começou, sendo mulher e observando o comportamento de mulheres através de uma prática profissional recorrente há quase 30 anos no âmbito da saúde e do exercício físico. Deste modo, na evolução acadêmica iniciada aos 16 anos no curso de educação física na UFRN, tive minha primeira experiência profissional no ramo da ginástica de academia, na época, exclusiva do público feminino. Daí começaram as inquietações e os porquês de querer compreender a importancia desta prática de exercício e como ela poderia ser melhor oferecida. Portanto, o chute inicial em busca de novos conhecimentos ocorreu na 1ª pós-graduação em Ginástica de Academia oferecida no Brasil realizada em 1989. Daí por diante, o aprofundamento em mais duas especializações (Consciência Corporal e Avaliação, Diagnóstico e Intervenção Funcional Desportiva) Mestrado em Educação Física, Saúde e Qualidade de Vida e por fim o doutoramento. Nesta última etapa, sendo a mais duradoura, o pesquisador deve oferecer um contributo inédito ao meio científico e assim busquei estabelecer evidências científicas da proporção (dose-resposta) da prática de diferentes programas de exercício físico para possíveis alterações na composição corporal (gordura (%), massa magra (kg), massa gorda (kg), como também no aspecto psicológico (satisfação corporal, percepção de saúde, autoestima e depressão) em mulheres adultas.

Qual a grande diferença entre as opções de exercícios físicos das mulheres e dos homens?
Nos dias atuais, praticamente não existem diferenças e a mídia se encarrega cotidianamente de mostrar esta evolução à população. A oferta de modalidades de exercícios no mundo do fitness, tanto quanto, a busca pela prática desportiva ocorrem equilibradamente para ambos os sexos.  Sem dúvidas, é possível ainda observar uma frequencia maior de certas modalidades em detrimento de outras, como por exemplo o futebol e as lutas praticados por homens, assim como, a ginástica e a dança por mulheres, entretanto, estas escolhas e comportamentos são fortemente influenciados pelo contexto social e cultural de cada região.

Pela sua experiência, o que leva a mulher a praticar exercício: saúde ou vaidade?
Agora peço desculpas as mulheres, especialmente aquelas que negam a vaidade.  Grande parte dos estudos sobre a imagem corporal feminina reporta a relação de satisfação/insatisfação da mulher consigo mesma. Na cultura ocidental e particularmente no Brasil, o corpo e a boa aparência física significam um importante veículo de ascensão social e de relacionamentos bem sucedidos. Independente do tipo físico classificado como ideal, observa-se uma contínua incidência de insatisfação das mulheres com a própria aparência física, onde mulheres jovens são classificadas como mais insatisfeitas. Este sentimento tende a amenizar a medida que envelhecem, quando a atenção é direcionada a outros aspectos, dentre eles, a saúde.

 Analisando agora o objeto do seu estudo, quais os efeitos das diferentes práticas de exercícios físicos nas mulheres? Qual o melhor esporte para se praticar?
Bem, foi um estudo quase-experimental em 16 semanas, com análises em três distintos momentos, sendo três grupos de mulheres praticantes de exercícios (musculação, dança e hidroginástica) e um grupo controle com mulheres sedentárias. Os resultados demonstraram que independente do tipo de exercício praticado, mulheres fisicamente ativas apresentam um perfil antropométrico e psicológico mais saudável. Em todas as condições, as mulheres sedentárias estiveram em desfavorecimento sobre o aspecto da saúde. Deste modo, o melhor esporte a praticar, é fugir do sedentarismo.  Observou-se que o efeito do exercício ocorreu em proporções relativas sobre cada variável investigada. Se o objetivo é reduzir a gordura corporal, as atividades combinadas/multicomponentes (treino aeróbio + resistido) foram melhores. Para melhoria da satisfação corporal e autoestima em mulheres adultas, o treino de força é essencial, assim como, a prática da dança deve ser incentivada como desencadeadora de melhoria da saúde psicológica.

Como escolher o esporte a praticar?
O sucesso de qualquer programa de exercícios físicos está intimamente relacionado com a regularidade de sua prática, ou seja, disciplina. Para que isto ocorra, é necessário gostar do que faz para poder manter o nível de motivação. Um conselho seria: permita-se vivenciar diversas formas de movimento ou prática desportiva. Isto será a garantia de acertar na sua escolha.

Qual o efeito psicológico do exercício físico nas mulheres?
Nesta pesquisa, os efeitos do exercício em dimensões psicológicas foram mais significativos para as variáveis da satisfação corporal, percepção de saúde e autoestima de mulheres adultas.

O que lhe surpreendeu na sua pesquisa?
Esta pesquisa possibilitou a produção de quatro artigos científicos com perspectivas tranversal e longitudinal. No último deles, foi realizada uma análise correlacional de todas as variáveis antropométricas com todas as psicológicas. A surpresa e talvez o grande contributo para futuras investigações foi identificar a associação positiva do percentual de gordura com a depressão exclusivamente no grupo de mulheres sedentárias. Ou seja, o aumento da gordura corporal nessas mulheres resulta em níveis mais elevados de depressão

Qual o nível de satisfação da mulher que faz exercício físico?
Sempre mais elevado do que a mulher sedentária. Quanto mais regular for a prática do exercício, melhores níveis são esperados.

Qual o esporte que traz o resultado mais rápido?
Mais uma vez reforço que para qualquer resultado satisfatório, a disciplina deverá estar em primeiro lugar. Entretanto, algumas condutas facilitam este processo. Por exemplo: Definir os objetivos com a ajuda de um profissional de Educação Física, verificar o estado inicial de aptidão física e fazer acompanhamento periódico.

Qual o esporte mais difícil para mulher?
Aquele que ela não se permitir experimentar. A cada dia, as mulheres demonstram maior liberdade em aceitar desafios com o corpo. Quando conseguem estes propósitos, os sentimentos de autoeficácia física tendem a se acumular e generalizar. Adquirem confiança, se sentem competentes e isto se traduz na base da construção da autoestima através do exercício. Quando confiantes, não existe nada difícil.

Família e amigos influenciam até que ponto a mulher a começar fazer exercício físico?
Muito. Todas as nossas atitudes e decisões são permeadas pelas influências do meio social em que vivemos. Estar inserido numa família ou ter amigos fisicamente ativos aumentam as nossas possibilidades motivacionais em relação ao exercício.

Depois do seu doutorado, planeja novos estudos nessa área?
Sim. Todo processo de pesquisa é passível de limitações e estas incitam novas perspectivas e futuras investigações. Como por exemplo: Reproduzir este tipo de investigação com a inclusão de outras modalidades de exercício (ginástica funcional ou crossfit, spinning ou corrida, yoga ou pilates) com características distintas e praticadas isoladamente por um período; Alargar este estudo, considerando os efeitos produzidos em cada programa de exercício (treino de força, dança, hidroginástica) e formar grupos de prática de atividade física combinada/multicomponente (treino de força+dança, dança+hidroginástica, força+hidroginástica); Aprofundar os conhecimentos relativos a composição corporal e níveis de depressão.
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