Caro leitor,
os tiros disparados contra o carro do músico Evaldo dos Santos Rosa colocaram em xeque, para muitos, a participação de militares das Forças Armadas
em ações ligadas à Segurança Pública nas áreas urbanas do País. O
silêncio do governo federal após os disparos só foi rompido na
quarta-feira, dia 10, com as declarações do ministro da Defesa, o general Fernando Azevedo e Silva,
que chamou o caso de “lamentável e triste incidente”.
O ministro
revelou não achar “normal” os "80 disparos", assegurou que o Exército ia
apurar tudo e “cortar na própria carne.” No fim, completou: “O presidente falou: apure o que tem que ser apurado”.
Já fazia três dias que o filho de Evaldo perguntava pelo pai e dois que
os militares envolvidos estavam no xilindró quando o ministrou
finalmente falou.
O Exército que estivera a frente da intervenção federal no Rio
e mantivera suas tropas atuando em operações de garantia da lei e ordem
no Estado em 2017 e 2018 se viu diante de um episódio classificado por
sua cúpula como “péssimo, muito negativo”. O que os generais sabem sobre os tiros que mataram o músico? Horas depois dos disparos, o Comando Militar do Leste
(CML) soltou uma nota em que afirmava “com base em informações iniciais
transmitidas pela patrulha”, que a “tropa teria reagido a uma agressão
oriunda de criminosos a bordo de um veículo”.

O que levou a
esse erro de avaliação do CML? O chefe da patrulha faltou com a verdade,
tentou encobrir o crime adicionando-lhe a indignidade da mentira e,
assim, teria sido desleal com seus comandantes? “Não há provas disso”,
disse um general. A patrulha não tentou fraudar o local do crime,
adicionando arma ou drogas nas mãos da vítima para encobrir o delito,
como já aconteceu no caso do dentista Flavio Santana em 2004,
em São Paulo, quando os PMs que o mataram, além de confundirem o
dentista negro com um assaltante, ainda tentaram mudar a cena do crime,
colocando uma arma na mão da vítima. A farsa foi descoberta e todos
foram presos.
No caso do músico morto em Guadalupe,
no Rio, quando ia com a família para um chá de bebê, os militares
envolvidos foram presos por ordem do comando quando se percebeu que seus
depoimentos tinham inconsistências. Não obedeceram as “regras de
engajamento”, o manual de operações com as normas sobre quando se pode e
se deve atirar em operações de segurança urbana. Os generais afirmam
que o caso precisa ser analisado em seu contexto: “Aquilo não ocorreu em
Marte. A área é uma região de confrontos.
A percepção da patrulha é que
estava sob ameaça. Pode ser que essa ameaça não estivesse no carro, mas
nas imediações. Houve um erro de avaliação. Ninguém sai para a rua para
executar um inocente. Depois, houve uma nota precipitada que teve de
ser refeita.”
De fato. É possível pensar que os sete soldados, o
sargento e o tenente presos pelo assassinato do músico não tinham a
intenção de fuzilar um pai de família ao lado do filho de cinco anos e
da mulher. O que, então, saiu errado? A perícia técnica deve apontar que
o número de disparos feitos pelos militares foi, segundo um
oficial, "inferior a 40" e não os 80 divulgados pela Polícia Civil.
Há
perfurações não só na traseira do veículo do músico, mas também na
lateral e foram constatadas marcas de disparos feitos contra a tropa.
"Evidentemente, eles não partiram do veículo do músico, mas de bandidos
que estavam perto do local." A família - dizem os generais - teria sido
pega em fogo cruzado.
E para além do local dos fatos, o que pode ter saído errado? Especialistas apontam para uma escalada no uso da força pelas órgãos de segurança no País. E para uma banalização do engajamento das Forças Armadas em uma tarefa que não lhes cabe: a Segurança Pública. No fim dos anos 1970, o marechal Cordeiro de Farias
dizia se preocupar “com uma distorção da instituição militar”.
Para
ele, o Exército estava se tornando polícia, invadindo casas e prendendo
pessoas. Ele, que comandara a Artilharia Divisionária da Força
Expedicionária Brasileira (FEB), na Itália, durante a 2ª Guerra Mundial,
criticava a guerra que os jovens haviam arrumado: o combate à
subversão. Segundo ele, isso “degradava profundamente a instituição”. A
conta ficou para o Exército.
#Fonte: Estadão
Quem Paga a Conta do Silêncio de Bolsonaro Sobre os '80 tiros' São os Militares e o Exército
Reviewed by CanguaretamaDeFato
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12.4.19
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