
A perda parcial ou total do olfato é uma condição indesejada, que vai além do incômodo. É algo capaz de alterar a qualidade de vida de várias formas. No entanto, é possível reaprender a sentir os cheiros. O treinamento olfativo é uma prática baseada em evidências científicas que pode ajudar na recuperação do olfato mesmo após meses de perda. É a fisioterapia para o nariz, uma forma estruturada de reabilitação sensorial através do estímulo olfativo. O tema se popularizou nas redes sociais e, apesar de muita gente já tentar fazer por contra própria, a orientação de um médico é sempre essencial.
O treinamento olfativo é especialmente eficaz em casos de perda de olfato após infecções virais, mas também pode ajudar em outras condições. A otorrinolaringologista Lidiane Ferreira, do Hospital Onofre Lopes (HUOL), explica que as principais causas de alteração do olfato são as inflamatórias e infecciosas, principalmente as virais. “Isso vai desde as viroses mais comuns, resfriados e gripes como influenza ou rinovírus, assim como o Covid-19, que causa um processo inflamatório mais intenso”, diz.
Outras causas também presentes, segundo Lidiane, são alterações na anatomia do nariz, poliposes nasais (que são doenças crônicas do nariz); traumatismos cranianos, em que pode ocorrer alteração da região do cérebro responsável pelo nervo olfativo; pacientes que inalam substâncias tóxicas, principalmente industriais, que acarretam lesão da mucosa olfativa, ou mesmo doenças neurológicas que afetam o nervo olfativo.
As condições que alteram o olfato são as seguintes: a anosmia, que é a perda total do olfato; a hiposmia, que é a diminuição do olfato, “o paciente que percebe o cheiro, mas com dificuldade, tem uma certa limitação na intensidade do cheiro”, explica a médica; e também a parosmia, que seria uma percepção distorcida dos cheiros.
É preciso ainda se atentar ao fato de que nem toda perda de olfato é causada por vírus. Pode ser algo muito mais sério, como tumores, rinossinusites crônicas, doenças neurológicas, ou até deficiências hormonais.
Treinamento olfativo
Os procedimentos para os treinamentos olfatórios fazem parte de protocolos mundiais e também da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia. “Esses protocolos ficaram mais evidentes no pós Covid, porque muitas pessoas já estavam fazendo”, diz. A prática consiste em cheirar conscientemente uma série de odores diferentes, duas vezes ao dia, por no mínimo 12 semanas. É o estímulo do olfato através do cheiro.
Lidiane Ferreira explica que há treinamentos que são padronizados com essências específicas, e também os protocolos caseiros, que o médico pode recomendar ao paciente para inalar, por exemplo, pó de café, cravo, mel, pasta de dente. “Há substâncias que o paciente encontra no próprio ambiente doméstico, e que pode fazer esse treinamento diariamente”, diz.
As substâncias do treinamento olfativo caseiro são: café, essência de baunilha, mel, cravo, suco de tangerina, pasta de dente, e vinagre de álcool. Já os aromas mais utilizados nos protocolos científicos costumam ser rosa, limão, cravo e eucalipto – sempre por meio de óleos essenciais. A exposição repetitiva ajuda o cérebro a “reaprender” a processar os cheiros.
O reaprendizado do cheiro tem a ver com a neuroplasticidade, capacidade do cérebro de se adaptar e criar novas conexões neurais. Estudos de imagem funcional mostram que, após semanas de treinamento, áreas cerebrais ligadas ao olfato, como o córtex orbitofrontal e o giro parahipocampal, voltam a ser ativadas. A técnica é recomendada oficialmente por diretrizes internacionais, como a EPOS 2020 e o International Consensus Statement on Olfaction Dysfunction (2023).
Há também um mecanismo biológico para a reabilitação do olfato que consiste na saturação dos receptores olfativos com as substâncias que o paciente inala. “Já que a principal causa de hiposmia e anosmia é uma alteração inflamatória, é necessário que o receptor receba a substância que promoverá o cheiro”, diz. A hiperexposição satura os receptores de forma que eles vão, aos poucos, se remodelando e recebendo melhor essas substâncias olfativas.
Eficácia
Todos os pacientes com disfunção olfativa podem se beneficiar em algum grau do treinamento olfativo, afirma a médica. Mas o sucesso do procedimento tem a ver também com a origem do distúrbio. “Pacientes com alterações neurológicas ou que sofreram traumatismos cranianos terão resultados mais restritos. Já aqueles que têm apenas alterações inflamatórias, como nos casos virais, ou que têm doenças do nariz, como as poliposes, terão resultado melhor”, explica.
A otorrino ressalta que nem sempre a perda ou diminuição do olfato é total ou permanente, ela também pode ser transitória. “Portanto, quanto mais cedo a pessoa fizer o tratamento, maiores as chances de reverter o quadro”, diz. O tempo de tratamento será conforme a melhora do paciente.
“Se a pessoa estiver fazendo o treinamento e está percebendo que tem alguma melhora, geralmente a gente pede para ele usar durante um mês, até dois meses. Vai depender realmente da resposta que ele está tendo ao tratamento”, explica Lidiane. Há vários estudos que mostram os benefícios do treinamento olfativo, quando comparados aos pacientes que não fazem o tratamento.
Segundo a médica, não existe um percentual definido de melhora, mas existem taxas. “Por exemplo, alguns estudos mostram uma taxa de melhora de 2,75, quer dizer que os pacientes que fazem o procedimento podem ter uma melhora duas vezes maior do que os pacientes que não fazem esse treinamento”, diz.
A eficácia do tratamento tem bastante a ver com a dedicação do paciente a ele, alerta Lidiane. “Acredito que o principal desafio é a questão da constância, o paciente ter na sua rotina aquele horário para fazer o processo, porque ele vai precisar inalar os odores por cinco minutos pelos menos três vezes por dia, então requer um pouco de disciplina e dedicação para o treinamento”, diz.
#Fonte: Tribuna do Norte
O treinamento olfativo é um dos caminhos para a reabilitação do nariz
Reviewed by CanguaretamaDeFato
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10.8.25
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